Medicina Regenerativa: conheça IRAP, o anti-inflamatório natural do próprio corpo para o tratamento das dores articulares

Você já imaginou tratar uma inflamação articular com uma substância produzida pelo próprio corpo?
Essa é a proposta do IRAP (Interleukin-1 Receptor Antagonist Protein), uma proteína com potente ação anti-inflamatória, que vem ganhando destaque entre médicos e pesquisadores da área de ortobiologia.

Em vez de usar medicamentos sintéticos, o IRAP utiliza o próprio sangue ou medula óssea do paciente para gerar um produto biológico capaz de “desligar” o processo inflamatório nas articulações, tendões e tecidos musculares.

Como o IRAP funciona na prática

Toda inflamação é mediada por substâncias chamadas citocinas.
Entre elas, a interleucina-1 (IL-1) é uma das principais responsáveis pela dor, inchaço e degradação da cartilagem — sendo conhecida como a “mãe da inflamação”.

O IRAP age bloqueando a IL-1, impedindo que ela continue o ciclo inflamatório. É como se ele desligasse o disjuntor da dor, criando um ambiente mais equilibrado para o corpo se regenerar naturalmente.

O avanço da ortobiologia moderna

Nos anos 2000, o Dr. Peter Wehling, da Alemanha, criou o método Ortho-Kine® (ou Regenokine®), que estimulava a produção de IRAP em laboratório.
Embora eficaz, o processo era caro e demorado, o que limitava seu uso.

Hoje, a medicina evoluiu:
a nova geração de ortobiológicos permite obter 15 a 20 vezes mais IRAP diretamente da medula óssea do paciente, em um processo rápido e ambulatorial.
O resultado é um “coquetel biológico anti-inflamatório”, que combina:

• IRAP (IL-1Ra) – bloqueia a inflamação

• Células-tronco mesenquimais (MSCs) – favorecem o reparo tecidual

• A2M (Alfa-2-Macroglobulina) – outro potente modulador imunológico

Tudo isso em um procedimento que dura cerca de 30 minutos, sem necessidade de cultura celular ou medicamentos externos.

O novo paradigma da medicina regenerativa

Durante muito tempo, o foco da ortobiologia foi “reconstruir o tecido” com fatores de crescimento. Agora, a tendência é primeiro apagar o fogo da inflamação, para depois estimular a regeneração. Essa visão representa uma verdadeira mudança de paradigma: da regeneração pela força → para a regeneração pela harmonia biológica.

E o melhor: isso pode ser feito com o próprio material do paciente, de forma segura, personalizada e custo-efetiva.

Por que o IRAP pode transformar o futuro dos tratamentos articulares

O IRAP não é um medicamento novo: é uma forma inteligente de usar o que o corpo já tem. Essa abordagem pode democratizar o acesso aos tratamentos regenerativos, tornando-os mais naturais e sustentáveis. Em um futuro próximo, podemos ver a ortobiologia deixar os laboratórios complexos e chegar ao consultório, permitindo que o corpo trate a si mesmo.

Fontes científicas

• Buford D. Texas Orthobiologics Review, 2024.

• Garbin L. et al. Frontiers in Veterinary Science, 2021.

• Costa FR et al. PubMed Central (PMC), 2025

Alexandre Moulin

Médico Ortopedista especializado em Cirurgia da Coluna, Tratamento da Dor e Medicina Regenerativa. É Membro Titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC), da Amrican Society of Regenerative Medicine (ASRM) e da North American Spine Society (NASS).