O músculo esquecido nas ressonâncias que pode revelar o risco de osteoporose
Você sabia que uma ressonância magnética da coluna pode dizer muito mais do que apenas se há hérnia de disco ou compressão nervosa?
Um estudo recente publicado no European Spine Journal mostrou algo surpreendente: mesmo sem fraturas visíveis, pessoas com osteoporose lombar apresentam maior acúmulo de gordura dentro do músculo psoas, especialmente nas regiões mais altas da lombar (L1–L2 e L2–L3).
Essa descoberta reforça um conceito que poucos conhecem, mas que muda completamente a forma de olhar para a saúde da coluna: osso e músculo funcionam como um só sistema.
O eixo “osso–músculo”: quando o corpo perde força por dentro
Durante muito tempo, médicos e pacientes trataram osteoporose apenas como um problema do osso: perda de cálcio, risco de fraturas, necessidade de suplementação. Mas a ciência vem mostrando que a perda óssea anda de mãos dadas com a perda muscular.
O músculo psoas, que fica na frente da coluna lombar e atua como um verdadeiro “pilar de sustentação”, é um dos primeiros a dar sinais de alerta. Quando esse músculo é infiltrado por gordura (algo visível nas ressonâncias), ele perde força e capacidade estabilizadora, o que afeta diretamente a postura, o equilíbrio e até a proteção contra quedas e microfraturas.
O que isso significa na prática
Na rotina clínica, o foco de quem avalia uma ressonância lombar costuma estar em estruturas como os discos, as facetas e os nervos. Mas o médico deve olhar com a mesma atenção para o psoas, conjunto de músculos que mantém a coluna estável e o corpo equilibrado. Quando o psoas enfraquece, o impacto não é só estético ou postural: há perda de controle fino, instabilidade lombar e maior risco de lesões e fraturas mesmo sem traumas graves.
O novo olhar sobre a osteoporose
Esse estudo traz uma mudança importante na forma de pensar a prevenção e o tratamento:
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A osteoporose também é uma doença muscular.
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O osso e o músculo devem ser avaliados juntos.
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A reabilitação precisa ir além do cálcio e dos medicamentos.
O tratamento moderno deve integrar avaliação de composição corporal, fortalecimento profundo do core e modulação metabólica: estratégias que atuam no eixo osso–músculo de forma integrada, ajudando o corpo a recuperar não só densidade, mas também qualidade de movimento e estabilidade.
A osteoporose começa de forma silenciosa. E enquanto o osso se fragiliza, os músculos vão junto.
📚 Fontes científicas
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European Spine Journal, 2025 – “Association between lumbar osteoporosis and fatty infiltration of the psoas muscle”
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Reginster JY et al., Osteoporosis International, 2023
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Tagliaferri C. et al., Frontiers in Endocrinology, 2024
Médico Ortopedista especializado em Cirurgia da Coluna, Tratamento da Dor e Medicina Regenerativa. É Membro Titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC), da Amrican Society of Regenerative Medicine (ASRM) e da North American Spine Society (NASS).



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